Em seus primeiros cem anos, o cinema do além-túmulo retratou desde a obsessão mórbida dos vampiros pela vida eterna até o fascínio da dor misturada ao prazer no sadomasoquismo infernal dos cenobitas.
por Carlos Primati
Inicialmente, o Horror surgiu como gênero na literatura do final do século XVIII e início do XIX, através dos romances góticos de diversos autores ingleses. O novelista e poeta Matthew Gregory Lewis ficou conhecido como O Monge devido ao sucesso de seu livro homônimo publicado em 1796, narrando horríveis incidentes sobrenaturais, num
clássico exemplo da literatura gótica. Sempre explorando a fascinação mórbida pela morte, a solidão e o sofrimento, Lewis também escreveu a série de poemas Contos de Terror (1799). A romancista Ann Radcliffe ajudou a compor o gênero através de histórias caracterizadas pelas tramas misteriosas com atmosfera de terror, destacando os quatro volumes de Os Mistérios de Udolpho (1794). Alguns anos mais tarde, Jane Austen inspirou-se nesta obra de Radcliffe para escrever Northanger Abbey (1803), seu livro mais sombrio.
A obra mais importante deste período é Frankenstein ou O Moderno Prometeu, clássico de clima mórbido escrito pela adolescente Mary Wollstonecraft Shelley em 1816 e lançado dois anos depois. Na América, a mesma
fascinação pela morte e pelo macabro aparecia nos contos góticos de Edgar Allan Poe, como A Queda da Casa de Usher, O Gato Preto, O Poço e o Pêndulo e tantas outras narrativas imortais. Completando o primeiro século da literatura gótica, o denso romance Drácula (1897), de Bram Stoker, encerrou este ciclo que estabeleceu as características básicas do gênero, contando a saga de um morto-vivo em luta contra a
solidão buscando o amor eterno. Na época da publicação de Drácula, uma outra arte acabava de nascer - o cinema.